quarta-feira, 11 de julho de 2012

Os megaeventos desportivos como veículos de comunicação das marcas: o caso do Euro 2012


Artigo elaborado para o Marketing Portugal

Os megaeventos desportivos são fundamentais como veículos de comunicação das marcas para chegar ao seu público-alvo. De facto, trata-se de uma forma de fazer marketing através do desporto, ou seja, uma oportunidade que é dada às marcas para comunicaram com os seus consumidores, que são, simultaneamente, consumidores desportivos.
 Designados por ações coletivas e efémeras que comportam status simbólicos e escalas espaciais e temporais muito significativos (Seixas, J. 2010), estes megaeventos, como o recente Campeonato Europeu de Futebol, ou Euro 2012 na sua forma abreviada, são importantes momentos de exposição das marcas a um grande número de consumidores e potenciais consumidores. Neste artigo para o Marketing Portugal, a minha análise, breve mas concisa e prática, irá incidir sobre o megaevento que no último mês nos prendeu à televisão e às redes sociais, e onde, nas conversas offline, houve sempre tema de discussão.
 Esta análise começa por um facto curioso: o interesse dos europeus no evento em causa. Segundo um estudo da OMD, realizado antes da prova começar, o Euro 2012 era o evento desportivo que despertava maior interesse entre os europeus (72 por cento), situando-se mesmo à frente dos Jogos Olímpicos de Londres (66 por cento).
 Em Portugal, atingiram-se mesmo números muito interessantes do ponto de vista da audiência televisiva, com cerca de 3.7 milhões de espectadores no jogo das meias-finais entre Portugal e Espanha, transmitido pela SIC, e 3.5 milhões no jogo da fase de grupos entre Portugal e a Holanda.
 Segundo um estudo do IPAM, que analisou as diferentes fases da prova - estágio, fase de grupos, quartos-de-final, meia-final e final, o impacto na economia portuguesa se a seleção nacional fosse campeã europeia, rondaria os 551 milhões de euros. A Espanha foi a campeã, e segundo este estudo o impacto na economia do país vizinho terá sido de 2,2 mil milhões de euros.
 Com a enorme mediatização em torno do evento, é natural que as marcas vejam estes momentos como aqueles onde devem apostar grande parte do budget anual alocado ao marketing. Só na fase de grupos da prova, e durante os 15 minutos de intervalo entre cada uma das partes dos jogos, foram investidos, segundo um estudo da Initiative, 12,4 milhões de euros em publicidade. Juntas, Sharp, Hyundai e Coca-Cola investiram mais de 2,6 milhões de euros. A primeira marca portuguesa a surgir neste ranking é a Zon, representando 5% do investimento total nos intervalos dos jogos. Deste bolo de investimento, a TVI foi o canal que arrecadou maior volume de investimento, com um total de 4,9 milhões de euros, seguida da RTP, com 4,8 milhões, e da SIC com 2,7 milhões.
As marcas parceiras da Seleção Nacional de Futebol, como a Nike, Continente, GALP, Sagres, o BES ou TMN, realizaram várias ações de comunicação durante os últimos meses.

 A Nike forneceu conteúdos exclusivos dos bastidores da seleção no seu canal do YouTube e no Facebook.
 
O Continente lançou a campanha “Olá, eu sou Portugal”, onde antigas glórias da seleção nacional – Carlos Manuel, Maniche e Figo, falam de alguns momentos memoráveis que tiveram com alguns dos adversários que defrontamos no Euro, como o caso do golo do Carlos Manuel à Alemanha em 1985.

A GALP lançou a campanha “11 por todos, todos por 11”, onde, segundo Isabel Caiado, diretora de marketing da empresa em entrevista à Marketeer, “em vez de serem os adeptos a «vestir a camisola» da Seleção, foram os jogadores a vestir a «camisola dos portugueses», a ajudá-los, através das suas vitórias, a levantar a moral do país”. 

A Sagres, parceira da Seleção desde 1993, lançou a campanha “Somos Seleção”, que tem a sua génese na “Sagres Somos Nós”, lançada em 2011. O objetivo passou por procurar criar o espírito e a força necessários para unir os portugueses, comunicando que todos fazem parte da Seleção.

A TMN criou a campanha “Vamos lá Portugal”, onde pretende salientar o esforço e a dedicação de todo o staff em torno da Seleção, com o mote “”Eles podem não saber cantar. Mas fazem tudo pela Seleção”.

Por último, o BES realizou uma corrida de apoio à Seleção Nacional, onde participaram 22 mil pessoas, e cujo mote foi “Uma braçadeira no braço, um país no coração”.

Relativamente ao digital, em apenas cerca de dois meses, a página do Facebook do Euro2012 acumulou quase 900 mil fãs. O site do evento (http://www.uefa.com/uefaeuro/) era absolutamente fantástico, com tudo aquilo a que um fã quer ter acesso. Fotografias e estatísticas pormenorizadas de todos os jogadores, aplicação mobile para seguir tudo ao minuto e ter acesso a todas as notícias, vídeos e fotografias dos jogos e outros eventos no telemóvel, bilheteira online, loja online, enfim, tudo o que permita aos adeptos viverem da melhor forma possível um mês da modalidade que os apaixona. Como curiosidade, referir que dos países observados no estudo da OMD, Portugal destacou-se como aquele em que os fãs mais usaram a internet para seguir o Euro (71 por cento).
 Claro que nem tudo são boas notícias. Ainda recentemente foi divulgado um caso de manipulação de imagens no evento no jogo das meias-finais entre Alemanha e Itália, onde após a derrota dos primeiros aparece na televisão uma senhora germânica a chorar, pretendendo-se transmitir ao público a tristeza dos alemães pela derrota. Afinal, sabe-se agora, a senhora chorou, mas não foi no final do jogo. Pelo contrário, foi no início do jogo, quando ouviu o hino do seu país.
 Além disto, existem também outros motivos a considerar quanto à manutenção do espetáculo desportivo, como o sistema de competição da prova. Recorde-se que no próximo Euro o número de seleções vai aumentar de 18 para 24, e alguma competitividade poderá perder-se pelo caminho, com seleções com menor potencial para competirem entre as melhores a poderem, eventualmente, baixar a qualidade do espetáculo. Claro que pior ainda seria a realização de um Euro por toda a Europa, como recentemente defendeu Michel Platini, presidente da UEFA. Cada um tem a sua “panca”. Ou não…

 Bibliografia consultada
 Ferreira, A. (2012). Euro 2012, mentiras e televisão. Jornal de Notícias. Consult. 5 Jul 2012, disponível em http://www.jn.pt/desporto/euro2012/foradejogo/Interior.aspx?content_id=2644404;
 Madeira, C. & Talhão, M. (2012. Marcas investem de 12 milhões de euros no Europeu. Diário Económico. Consult. 5 Jul 2012, disponível em http://economico.sapo.pt/noticias/marcas-investem-mais-de-12-milhoes-no-europeu_146908.html;
 Marques, R. (2012). Europeus mais interessados no Euro 2012 que nas Olímpiadas. Briefing. Consult. 5 Jul 2012, disponível em http://www.meiosepublicidade.pt/2012/06/21/europeus-mais-interessados-no-euro-2012-que-nas-olimpiadas/;
 Marketeer (2012). Caderno Especial: Futebol. MultiPublicações, 191, 135-156;
 Mendes, A. (2012). Um mês de Euro 2012….Briefing, disponível em http://www.briefing.pt/brief-audimetria/17155-um-mes-de-euro-2012.html;
 Oliveira, A. (2012). Euro 2012: vitória de Portugal geraria cerca de 550 milhões de euros no país. Canal Superior. Consult. 5 Jul 2012, disponível em http://informacao.canalsuperior.pt/noticia/13512;
 Seixas, J. (2010). Os Mega Eventos na Cidade: Imagética Social, Política Económica e Governança Urbana. E-metropolis, 2, 4-9. Consult. 5 Jul 2012, disponível em http://www.ics.ul.pt/rdonweb-docs/Jo%C3%A3o%20Seixas_2010_n1.pdf.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O "sangue" do Esporte Clube Vitória: um caso de boas práticas de marketing desportivo


Chegou-me há dias, pela mão do João Bem, o vídeo de uma acção de comunicação de um clube brasileiro, cujo objectivo é estimular os seus adeptos a doarem sangue. Nesse sentido, o clube em causa - o Esporte Clube Vitória, resolveu alterar a cor da sua camisola, tradicionalmente com listas horizontais pretas e vermelhas, para listas horizontais pretas e brancas. O que se pretende é que, consoante forem aumentando as doações de sangue, a cor branca seja paulatinamente substituída pelo vermelho tradicional do equipamento, como se este significasse de facto o sangue dos adeptos. O mote da campanha é por isso "O Vitória sempre deu o sangue por você. É hora de retribuir. Doe.".
Achei esta acção muito interessante por vários motivos, pois reflecte algumas variáveis com os quais me tenho vindo a debater nesta área sectorial do marketing. Passo a explicar:
- Parece-me claro que o marketing social, seja em que sector for, deixou de ser uma tendência no que refere ao reforço da relação das marca com o público-alvo. De facto, uma organização que não esteja socialmente envolvida com a comunidade local/nacional/internacional (consoante a sua dimensão), tem menos hipóteses de sobreviver num ambiente cada vez mais hostil e competitivo. Contribuir para aqueles que torcem por nós e que nos apoiam, é claramente uma forma de retribuir. Um dos exemplos recentes da interligação do marketing social e desportivo, foi a campanha realizada pela equipa de F1 da Red Bull para angariar um milhão de euros para o tratamento de lesões na medula espinhal. Curiosamente, em Portugal, e relacionado com o desporto, recentemente, só me recordo do movimento criado para ajudar o filho do futebolista Carlos Martins, que não tem necessariamente a ver com as referidas acções do Vitória e da Red Bull, em que foram as próprias a marcas iniciar o processo;
- É curioso perceber como um clube com 103 anos de história (foi fundado em 1899) não tem receio de "alterar", momentaneamente, uma parte do seu ADN, como é a alteração das cores que o clube enverga na camisola, e que são um símbolo do mesmo. Imaginam alguns clube nacionais a fazer o mesmo? Pois, eu também não. Mas seria interessante fazê-lo, seria interessante fazer esta "provocação", se bem que apenas resultaria se devidamente enquadrada do ponto de vista estratégico;
- A ideia é simples e de fácil execução. De certeza que não foram precisos orçamentos milionários para a realização de um vídeo de divulgação e uma landing page no Facebook. Estamos a falar de um clube que aderiu ao Facebook no dia 27 de Junho de 2012 (sim, leram bem), e que até já foi notícia na BBC à custa desta acção.
Essencialmente, acho que devemos mudar o nosso ponto de partida quando nos é colocado um desafio. Em vez de pensar "qual é o orçamento que tenho para fazer isto?", devemos antes pensar "que ideias tenho de ter para superar este desafio?". O problema, parece-me, é que muita gente continua a fazer a primeira pergunta..
Fica aqui o vídeo da acção em causa:
 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Formação em Penafiel sobre Marketing 2.0 aplicado ao desporto


Estive em Penafiel na passada sexta-feira, dia 29 de Junho, a falar sobre Marketing 2.0 aplicado ao Desporto. Foram duas horas muito interessantes, e onde pude constatar, mais uma vez, o muito que há para fazer na área. A apresentação versou alguns pontos pertinentes, como o crescimento da utilização da internet na sociedade actual, a alteração do contexto competitivo e do comportamento do consumidor provocado por esta utilização e a necessária readaptação do marketing-mix das organizações a esta realidade.
Agradeço à Penafiel Activa o convite, na pessoa do Renato Luís, e à audiência presente no Museu desta belíssima cidade.